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quarta-feira, novembro 07, 2007

Dia de fúria

A rotina estressante do dia-a-dia mexe com os humores de qualquer um, incluindo os desse pobre mortal que vos bloga uma vez a cada ano bissexto. A vontade que dá é mesmo de xingar, chutar as pessoas que andam devagar quando você já está atrasado meia hora, empurrar a gordinha que trava a escada rolante do metrô, esganar aquele ser que deixa pra contar as moedinhas na hora de pagar a passagem...

Enfim, tudo vira motivo para desencadear um ataque de fúria repentino. Normal. Mas hoje presenciei um que me deixou um tanto quanto chocado.

Desavisado que sou, esqueci meu amado passa-filho-da-puta (vale transporte eletrônico) e tive que entrar na fila para comprar bilhete do metrô. Corno! Na minha frente, um homem em seus trinta e poucos anos entregou todo-todo uma nota de cinqüenta reais para o caixa.

_Teria menor, senhor? – indagou o rapaz enquanto segurava o dinheiro.

Para muitos de nós uma frase normal, sem grandes problemas ou ofensas. Para o desgraçado - cuja mulher deve ter se recusado a fazer-lhe o fio terra - que comprava o bilhete não. O infeliz começou a gritar com o pobre do caixa assim sem eira nem beira. “É claro que eu não tenho”, “seu burro, se eu tivesse, teria pago com o dinheiro trocado”, “que pergunta mais idiota” – gruía o descontrolado entre outras argumentações incompreensíveis.
Pena que não coloquei minha camisa de força na mochila.

O caixa respondeu que era uma pergunta padrão, o que irritou ainda mais o fulano que berrava com uma voz grave de comentarista de rádio AM.

Acho inclusive que ele é barítono, mas abafa.

Estrela na calçada da fama para você querido! Agora toma uma maracujina porque quero comprar meu bilhete sem discutir o treinamento dos caixas do metrô ou o sexo dos anjos, oquei?

Mas quem disse a confusão não parou por ai?

A situação começou a piorar quando o rapaz acuado retirou um bolo de notas de dois reais que serviriam de troco para o estrupício. Feito um louco, o homem se pôs a bater no vidro para exigir que troco fosse inteiro. Ainda disse com desdém para o pobre coitado que era por essas e outras que ele estava ali naquele trabalho esdrúxulo e que nunca passaria de um “caixazinho” nunca na vida.

Aí fiquei puto dentro das calças. Se há uma coisa no mundo que me tira do sério é humilhação. Quem ele pensa que é? Onde já se viu alguém com sapato da Mr. Cat ficar humilhando os outros?

Comecei a pensar na parca probabilidade de minha chefe acreditar que eu havia ficado preso na fila atrás de um barraqueiro mal comido qualquer. Descrente dessa possibilidade, alcei meus olhos em busca de alguma ajuda. Sei lá, um anjo da guarda, um pai de santo ou um segurança que pudesse dar uma porrada, uma dedada, algo que acalmasse aquele encosto e o fizesse ir pra outro plano. Desencarna mizifio...vai pra luz!

Os seguranças chegaram e umas pessoas se aglutinaram (sim, porque o povo gosta de um furdúncio). Uma gordinha que degustava satisfeita um churro babado de doce de leite estava quase cuspindo na cara do maldito e foi quando resolvi ir pra outra fila. Se sobra uma cusparada daquela pra cima de mim eu engordo uns cinco quilos.

Vim no sacolejo do metrô refletindo sobre como podemos tornar o mundo pior com apenas um gesto ou uma palavra. O bom é que toda moeda tem duas faces e da mesma forma é possível tornar tudo menos complicado. Watch yourself!
Eu sei que estou dando uma de Geninho no fim de cada episódio de She-ra, mas todo mundo tem seus dias de Paulo Coelho.

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