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segunda-feira, setembro 18, 2006

No meio do caminho tinha uma pedra

Saio de casa atrasado para mais um odioso capítulo de Lipe e a Dinâmica de Grupo. Um engarrafamento monstro. Oito da manhã e já está tão quente que não se pode pensar. Maldito Rio de Janeiro! O calor é tanto que a porra da cera que inventei de passar no cabelo escorre pela minha testa afora. Merda, vou chegar lá com um look vela derretida! Super out. O ônibus com ar condicionado, claro, não passou e o corno aqui entrou no calorento mesmo.

E lá vou eu tentando me refrescar com o vento que entra tímido por entre a frestinha da janela aberta pela vaca sentada no banco da frente. Todo educado, pedi por obséquio para que ela abrisse a janela toda.

_É porque vai estragar meu cabelo – alegou a sonsa.

Sim, isso porque ela estava com aquela escova vencida, sabe? Daquelas feitas para uma festa na semana anterior? Os fios nem estavam mais divididos em mechas e sim em partidos políticos. 100% sebo (nojo).

Achei uma angulação favorável e resolvi praticar minha capacidade de abstração. Já quase pegando no sono, uma mulher se senta ao meu lado. A expressão se senta é por minha conta, porque o resto do mundo iria preferir usar algo como invasão abrupta. Olhei para ela com minha tradicional cara de dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas a mocréia estava ao celular e com cabelo na frente da cara.

Entretanto eu não fui o único sortudo a perceber a presença da moça não. Seu perfume era tão incrivelmente doce que o ônibus todo olhou para traz. Juro. A menina da escova podre até reconsiderou e abriu a janela. Nada que trouxesse grande alívio porém.

Sem brincadeira, aquela fragrância bota os fedidos Toque de Amor e Charisma da Avon no chinelo. Colei no canto do coletivo. Logo percebi que não se tratava de uma moça. Sabe essas coroas gostosonas? Hummm, como posso definir? Essas que usam roupa de garotinha e ficam fazendo charminho e pose sensual? Bem, para ficar mais elucidativo ela tinha mais ou menos a cara da Rosa Maria Murtinho, o jeito da Lady Francisco e o corpo da Gretchen. Mais ou menos isso.

Mas o pior estaria por vir. O muito pior. A ponte Rio-Niterói totalmente parada. A coroa desligou o celular e passou então a mexer os cabelos molhados de um lado para o outro, meio que dando uma sacudida. Olhei novamente para ela, agora com minha cara fulminante de meus óculos escuros não têm pára-brisa.

Ela, toda faceira, tentou aplacar a minha raiva soltando um meio-sorriso sensual o que me deixou um tanto assustado. Pude reparar melhor na figura. Percebi as nuances da pele enrugada e super-bronzeada; o batom de um tom laranja com contorno dos lábios feito com lápis de olho marrom (ui); e o mais intrigante de tudo, aquele espesso risco prata na pálpebra. Quem ainda usa lápis prata em cima dos olhos, minha gente? Isso era moda em sei lá...Suave Veneno, no personagem da Letícia Spiller. Só. Acabou.

Voltei-me para o meu eu interior, o que julguei mais apropriado naquele momento. Dizem que se a gente se concentra muito consegue esquecer do que se passa em volta. Mas esse meu lado oriental veio do Paraguai e não funciona muito direito.

Como se não bastasse aquele aroma penetrando em meus pensamentos, a Fulana tirou um segundo celular da bolsa e começou a ligar para todo mundo da agenda. Advinha!? Ela tinha comprado um celular novo e mudado de operadora. E é lógico que ela tinha que anunciar isso com uma voz muito estridente às oito da manhã enquanto o idiota aqui tentava se concentrar para uma meleca de dinâmica de grupo. Por que o mundo tinha que acordar sabendo que a maldita havia trocado de celular, me diz?

Na boa, foram umas vinte ligações sempre iniciadas com um “advinha quem éeeeee” seguido de uma risada fina e profundamente irritante. Isso quando ela não se empolgava e jogava o cabelo mal enxaguado de um lado pro outro deixando meu ombro emplastrado de condicionador, ou melhor, creme rinse, para usar um termo do tempo dela.

Assim não rola. Cheguei lá na parada tão tenso, fedido e mal humorado que a própria recepcionista já me reprovou. Depois falam que eu não me esforço. Se isso não é esforço, o que é então?
:o)

8 Comments:

Blogger Luiza Lima said...

Da proxima vez, arrisca na Barca. Lá, sempre tem pra onde correr! rs

beijos

9:18 PM  
Blogger Stupid Guy said...

Olha sempre me sinto meio Zé Buscapé nos meus posts, mas dae leio os seus e fico tão feliz! Hilário como sempre! Ahahahaha! Bjos!

11:36 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ahhh, que saudades daqui. Sabe, sempre que estou num ônibus - e como não dirijo, é algo comum - fico observando as pessoas e lembrando dos seus textos. Pena que não tenho a mesma capacidade pra narrar as minhas histórias. Beijos e sorte.

9:00 AM  
Blogger Noveleiros said...

Ta, gostei disso... E por mais que eu queira ser mais tosco no que escrevo, acabo sendo meloso... Acontece nas melhores (ou piores) pessoas. Abraçao!

6:03 PM  
Blogger Pris said...

Uma vez, quando estávamos a caminho de uma dinâmica, pingou óleo na camisa do meu amigo. De onde? Ninguém sabe, ninguém viu. Como se não fosse o suficiente, no metrô, os protetores das lâmpadas resolveram desabar em cima da gente. Uma coisa meio assassina, sabe? Eu só estou viva graças aos meus bons reflexos.

Ah, cansei dessa vida. Desisti oficialmente das dinâmicas.

1:55 PM  
Anonymous Anônimo said...

Todo mundo um dia acaba esbarrando com a Lady Murphy em pessoa, não é mesmo?

Better luck next time...
Grande abraço!

8:53 PM  
Anonymous Anônimo said...

Lipe,
me responde uma coisa, ela era pior do que a figura bizzara que tivemos a infelicidade de ver sexta????
Bjs lindo

1:14 PM  
Blogger Brena Braz said...

Conheço uma pessoa que diz que pobre é a desgraça do mundo. Sinto informar, mas tenho que concordar.
Pelo menos, vc faz graça da desgraça... rs
Beijos

1:40 PM  

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