Das minhas vergonhosas rotinas
Já é amplamente sabido que venho mantendo as palavras presas em minha cabeça por pura preguiça. Ela vem ficando maior a cada dia que passa e o tempo é o responsável também por tornar as coisas assim bem desnecessárias. Como escrever aqui, por exemplo.
Não há nada de novo não. A mesma vidinha de acordar, dormir e fazer entrevista de emprego nos intermédios. E tem sempre o lance de responder aos ávidos questionamentos acerca de meu desempenho, como se eu ou qualquer outra pessoa no mundo pudesse saber o que se passa na cabeça dessas moças de RH. Como se a dissimulação delas nos permitisse saber algo.
Em geral, elas fingem que me adoram, pois percebem que eu caio fácil. Viro o melhor amigo de infância em minutos e acabo estragando minha pose de muito sério. Nem meus novos óculos alternativos ao extremo estão me ajudando. Sim, óculos de armação preta de acetato, sabe? Sou ultra-mega-ploc-in-alternativo agora. Tenho exatamente a cara de quem fica pesquisando bandinhas da cena underground londrina pra dizer que curte e fazer bonito no blog. Madonna vale também, afinal, ela critica o cristianismo e isso é super modernoso.
Voltando à entrevista de ontem, a mulher era do tipo simpática. Não se enganem, essas são as mais perigosas. Me ofereceu água, toda solícita. Eu neguei, todo formal. Ela trouxe mesmo assim, toda superior. Fazendo-se valer da plenitude de seus poderes de me contratar ou não, ela aterrissou na minha frente aquele copinho de plástico encaixado em um suporte de silicone azul, igualzinho ao do hospital em que Helena trabalha em Páginas da Vida.
Não há nada de novo não. A mesma vidinha de acordar, dormir e fazer entrevista de emprego nos intermédios. E tem sempre o lance de responder aos ávidos questionamentos acerca de meu desempenho, como se eu ou qualquer outra pessoa no mundo pudesse saber o que se passa na cabeça dessas moças de RH. Como se a dissimulação delas nos permitisse saber algo.
Em geral, elas fingem que me adoram, pois percebem que eu caio fácil. Viro o melhor amigo de infância em minutos e acabo estragando minha pose de muito sério. Nem meus novos óculos alternativos ao extremo estão me ajudando. Sim, óculos de armação preta de acetato, sabe? Sou ultra-mega-ploc-in-alternativo agora. Tenho exatamente a cara de quem fica pesquisando bandinhas da cena underground londrina pra dizer que curte e fazer bonito no blog. Madonna vale também, afinal, ela critica o cristianismo e isso é super modernoso.
Voltando à entrevista de ontem, a mulher era do tipo simpática. Não se enganem, essas são as mais perigosas. Me ofereceu água, toda solícita. Eu neguei, todo formal. Ela trouxe mesmo assim, toda superior. Fazendo-se valer da plenitude de seus poderes de me contratar ou não, ela aterrissou na minha frente aquele copinho de plástico encaixado em um suporte de silicone azul, igualzinho ao do hospital em que Helena trabalha em Páginas da Vida.
As pessoa acham que só porque a gente é desempregado, a gente não é gente, sabe gente?!
Fiquei todo encucado. Seria o copinho imposto alguma espécie de teste? Algo como “vamos ver se ele é bem mandado”? Relutei em beber. Em minha mente conspiratória já cresciam as teorias de que a água poderia estar impregnada de cianureto ou um troço desses qualquer. Eu hein, vai que o primo dela está concorrendo também e ela visou me eliminar de uma vez por todas?! Nunca se sabe...
O cordeirinho aqui bebeu a água em uma única e corajosa golada. Ninguém pode me acusar de não fazer concessões, não é mesmo? Resolvi adotar a versão de que ela só queria me mostrar que a empresa estava investindo em suportes para copos iguais aos da novela. É...devia ser isso.
Ela sentou-se intimidadora à minha frente e coçou a garganta com um igualmente intimidador som. O “Hummmm” veio seguido de estalos nos dedos que me provocaram arrepios na espinha. Estava vestida com um inofensivo bolerinho vinho de crochê por cima de uma regata bege e uma saia bem ao estilo dessa moda mulambenta chique, com coisinhas bordadas e penduricalhos. Fiquei nervoso. Esperava alguém de terninho azul bebê mal cortado e batom brilhante da Avon.
Tenho essa coisa de construir as pessoas na minha cabeça...
Ela me perguntou se eu ficava rosa quando nervoso. Respondi que eu era rosa 24 horas por dia. Expliquei que tinha rosácea e tal. Ela me perguntou se isso, de alguma forma, influenciava no meu trabalho. (Como assim?) Disse que não me impedia de nada, que apenas seria um funcionário como outro qualquer, só que rosa.
Rimos descontraídos. Ela gostou de mim – pensei. Logo voltei para minha pose séria, que julguei mais apropriada. Em segundos, a moça me empurrou um desses questionários comportamentais em que seja lá qual for sua resposta, você tem a impressão de que está se fudendo todo. E assim sucedeu-se.
Fiz uma redação de tema livre também. Odeio redação de tema livre. Me peça pra falar sobre o Azerbaijão que eu invento algo, mas esse nulismo da falta de tema acaba comigo! Me sinto na terceira série, no primeiro dia de volta às aulas. (você deve ler isso em preto e branco pois se trata de um flashback) Às vezes, me dava um branco e não conseguia escrever nada. A tia me dava uma advertência na caderneta, o que virava um esquenta-rabo em casa depois e assim por diante. As coisas são uma bola de neve nessa vida!
Escrevi algo sobre a vaidade e o ego que ficou uma porcaria colossal. Muito pretensioso e intelectualóide sabe? Bem, foi só o que veio na hora.
Preciso para de ver GNT.
Ela se despediu de mim dizendo que me ligaria. Falsa! Isso brota da boca das psicólogas de RH com uma fluidez impressionante. Saí da sala meio tonto e tropecei no tapete da recepção, ainda sobre os olhares da pxicóloga. Que maldito que eu sou! Fiquei entre erguer minha cabeça como se nada tivesse acontecido ou sorrir naturalmente. Optei pela segunda e dei uma risada buscando esconder a minha auto-desaprovação.
Fumei três cigarros seguidos na saída! Se estivesse em São Paulo, ia torcer pra queimarem o meu ônibus. Juro que ia.
:o(
7 Comments:
Ah Lipe, se fosse só com vc!
Estou formada a 3 anos e N-A-D-A de emprego.
Passo por entrevistas ridículas e na esperança do "te ligamos até o fim da semana"... sabendo-se que essa semana não acaba nunca, pq nunca ligam!!
Ridiculo é fazer desenhos, quadrados, desenhar arvores e ir embora, sem entender nada!
Pelo menos, eu entendo vc! rs
bjos
redação com tema livre? com tema definido já é complicado... ter que imaginar um tema que agrade as RH'ets é o fim!
É rir pra não chorar...
Eu tive experiências únicas com as mocinhas do RH.
Uma disse, em bom som e frente à uma plateia de 20 pessoas, q eu era anti-ético.
Outra, muito franca, falou assim:
"Vc tem certeza q quer essa vaga? Não era melhor vc permanecer no meio acadêmico?"
Pois é, e cá estou eu no mestrado. Acreditei na mocinha! (q nem era tão mocinha, assim, diga-se de passagem...)
Junte-se à campanha...
"Lugar de Psicólogo é no consultório! RH é para Administrador."
... e me ajude a evitar este tipo de entrevistas estapafúrdias.
Cara, seu texto é tão criativo, bem humorado e elegante.. vc tinha que ter escrito uma dessas suas mini-cronicas q põe no blog. Com certeza, a guria ia amar. Torço por uma melhor sorte na proxima!
Odeio entrevistas de emprego!!!
é algo realmente depressivo!
mas não desanime lindo, um dia o sol raia!
Bjux
hahahahaha
Lipe, amore, já notei que você é rosa mesmo! Que luxo... adoro gente rosa! Meu ex era rosa...
:)
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