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terça-feira, janeiro 16, 2007

Presente de grego

Uma amiga dos já longínquos tempos de colégio gentilmente me chamou para a festinha de sua filha. Que bonito. Eu que só havia visto a criança no berço fiquei todo lisonjeado.

Como amigos com filhos ainda é um território desconhecido, esqueci-me de perguntar a idade da criança. Na minha cabeça, não poderia ter se passado mais de dois anos. Uma amiga em comum, também convidada, contudo, me disse que a menina faria três ou quatro. Mas já?

Então fiquei com a difícil tarefa de encontrar um presente para a filha de uma amiga que estava fazendo dois, ou três ou quatro anos. Digo difícil porque aos quatro anos hoje uma criança já recebe treinamento de executiva junior e provavelmente não se interessa mais por brinquedos. Um laptop estaria totalmente fora de minhas humildes possibilidades financeiras, mesmo o da Xuxa. A este momento você deve estar se questionando o porquê de eu não ter ligado para a mãe da criança, certo?

E denunciar minha falta conhecimento acerca da aniversariante? Nunca.

Munido de um amigo criativo e um cartão de débito com sérias limitações, fui ao encontro do destino cruel: uma loja de departamentos. No corredor tomado por caixas rosa tive a confortável sensação inicial de que qualquer uma das embalagens atingiria meu objetivo final de agradar e gastar pouco. Ledo engano.

Logo surgiu a conclusão de que a tal da Polly – quase onipresente - poderia causar uma asfixia. A era nano já se estabeleceu também nos brinquedos, foi? Modernidades a parte, eu continuo achando que as caixas grandes causam mais impacto.

Para meu desespero, as caixas grandes que, por conseguinte continham bonecas grandes, estavam com preços gigantescos. É incrível como as coisas fazem sentido nesse nosso mudinho capital, não é mesmo?

Achei um quebra-cabeça de módicos sete reais, mas julguei um pouco inapropriado para idade. Quando já me preparava para admitir o fracasso da empreitada e meu espírito já esmorecia de forma latente, o Julio (o amigo criativo acima citado) chamou minha atenção para um canto meio ermo da loja.

Parecia uma visão encantada. Centenas de caixas de gigantes bonecas de segunda linha acenavam para mim. Dessas bonecas genéricas que não são anunciadas no Cartoon Networks ou no Fox Kids e que nunca passariam naqueles testes de qualidade do Fantástico.

Em uma seleção inicial, descartei àquelas que tinham muito aspecto de terem sido distribuídas em Centro espírita. Em tempo de progressiva, boneca careca não tem vez. Com aquele olhar perturbado e a falta de cabelo, bastava colocar uma foto do Papa nas maozinhas para que virassem réplicas exatas de Sinead O´Connor. Esquece...uma já é mais que suficiente!
Passei a me concentrar nas outras tantas. Betinha, Lulinha, Carlinha, Soninha (opa, essa já admitiu fumar maconha em revista, melhor não) e uma multidão de diminutivos que vêem com mamadeira e fazem pipi de verdade.

Em uma análise mais minuciosa, notei que todas cultivavam o mesmo olhar plástico penetrante e maligno. Fui passando uma a uma e realmente todas tinham cara de psicopata. Juro, eu não dormiria no quarto com uma boneca daquelas nem com a Força Tarefa Federal junto.
E as roupas? Quem deu a brilhante idéia de vestirem todas as bonecas de Wanessa Camargo?

Passado o susto, me convenci que por dezessete reais eu não poderia exigir um olhar meigo e roupas legais. E sempre existe a possibilidade de deixá-las viradas para parede, o que eu acho até bem razoável.

Acabei por encontrar umazinha chamada Princeza Any e tirando sua aparência de plebéia, até que ela era bem simpática. E não tinha nenhuma ligação com as colegas demoníacas. Any (dispensando o título, pois já somos íntimos) estava mais para trangênero (traveco, porra) do que para integrante de rituais de magia negra.

Longos cabelos com mechas loiras, um vestido verde estampado com pomposas magas de renda vagabunda. Quem liga pra renda? A costura de um dos ombros estava no cotovelo da boneca, mas essa obsessão por simetria pode causar muito mal às pobres cabecinhas das crianças.

Depois foi só comprar um papel colorido e cravejar a grande caixa de fita adesiva. Meu passaporte para o maravilhoso mundo das coxinhas de galinha, bolinhas de queijo e incontáveis guloseimas estava carimbado. Hummm!

10 Comments:

Blogger Cecília said...

Comer cachorrinhos-quente é o meu momento de glória nas festas infantis! Poucas coisas com crianças gritando e correndo ao redor podem ser melhores do que isso!

E só pra constar: minha irmãzinha adora aquelas boncas carecas de olhar vidrado-demoníaco. Mas (muito) antigamente, eu também gostava.

Beijo!

10:19 AM  
Blogger Cecília said...

Não sei o plural de cachorrinho-quente.

10:20 AM  
Anonymous Anônimo said...

hahahahhahahaa... maravilhoso! e a criança, gostou da boneca-traveco? ain, ain...

bjo!

12:33 PM  
Blogger Mineiras, Uai! said...

Se escolha do presente rendeu um texto divertidíssimo,imagina a festinha...BELA

1:28 PM  
Blogger Unknown said...

auauhahahahu
Lipe,
conte como foi a festa, com todos os detalhes, pq se comprar o presente foi assim, eu preciso saber da festa!!!!!!
Bjs

9:14 AM  
Anonymous Anônimo said...

as colega tudo aqui da agenssa
(m)amamos a história. mas tá todo mundo quereno saber o desfecho tamém.

bêjo.

5:36 PM  
Anonymous Anônimo said...

Lindo, descobriu pelo menos qtos anos completou a criança???

Beijos.

11:12 AM  
Blogger Brena Braz said...

Lipe do céu!
Fui lendo a história e pensando: ele escolhendo uma boneca e vai que é meninO a criança... vai que vc tinha entendido errado! Fiquei imaginando q ia dar uma merda desse tipo. Ah, e fiquei imaginando a boneca igual do filme brinquedo assassino!
auhauhauahau
Bjos
Como vc diz: arrasa!

1:28 AM  
Anonymous Anônimo said...

Vivo fazendo malabarismo na hora dos presentes; pra tentar achar algo legal e que caiba no bolso...rs - Enquanto lia, lembrei de várias situações parecidas! Beijos =)

9:59 AM  
Blogger Letícia Lopes said...

Me diverti horrores!

Quando era menor não tinha quem fizesse meu primo durmir no meu quarto, por causa de uma boneca que eu tinha. Particulamente aquela da Eliana tamanho gigante sempre me deu arrepios.

Volto pra saber o relato da festa e a cara da criança de dois, três ou quatro anos quando abriu a grande caixa!

Xêro

10:20 PM  

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