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quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Enganchado

Eu sou exagerado e isso é o mais pura verdade. Contudo não existe nem um pingo de exagero quando digo que comigo acontecem as coisas mais esquisitas do mundo. Como naquela vez em que vi duas anãs lésbicas se pegando na porta da faculdade e achei quer Deus estava me mostrando coisas surreais para alertar que minha morte se acercava.

Hoje, por exemplo, em uma das etapas da minha via-crúcis diária de chegar ao trabalho, peguei um coletivo maldito já na zona norte do Rio. Se trata do ônibus da linha 680 que atende pela alcova de Méier e demora horas para dar o ar da graça. Ele é o único que conheço (até porque meu interesse por conhecer linhas de ônibus na zona norte não é lá muito extenso) que passa na frente de um posto de saúde perto da empresa onde trabalho. Por conta disso, está sempre lotado de gente perebenta, tísica, baleada e toda sorte – azar no caso – de infortúnios que se possa imaginar.

Depois de meia hora de espera, debaixo de um agradável sol matinal carioca, o expresso pobreza chegou. Me engalfinhei para dentro com mais umas quatrocentas cabeças ávidas por entrar no ônibus.

Sério, o olho do povo brilha quando o ônibus aponta. Acho que eles só se sentem realizados enquanto pessoas dentro de um ônibus.

Entrei no troço e de pronto fui rebocado até o meio do corredor por movimentos alheios. A teoria do caos!Tenho uma conduta muito taxativa de não me mexer nessas ocasiões. Finjo que sou matéria inanimada, natureza morta ou qualquer cousa do gênero e vou pra onde o povo me levar.

Uns dois pontos depois, uma senhorinha se levanta e puxa o sinal. O povo não tem a menor noção de nada mesmo! A mulher está atochada lá no início do ônibus apinhado de cornos (como eu) e me inventa de levantar exatamente 3 segundos antes de descer?! Mas você sabe para que? Para que?

Para depois levar quinze minutos para passar pelo vucovuco gritando com suas vozes estridentes até os pulmões explodirem:

_Vai descer ô motorista! Vai descer ae!

E você pensa que é só um que grita? Isso seria o melhor dos mundos, meu bem! Eles são solidários uns com os outros e ao bramir do primeiro grito, o povo todo começa a gritar junto!

Mas voltando ao causo de hoje, a maldita da mulher saiu rebocando aquelas milhões de pessoas! Sério, abrir o mar vermelho seria tarefa mais fácil. E danou o povo a gritar! O motorista a gritar de volta... Visão do inferno!

No que ela se aproximou de mim, tentei me encolher para abrir caminho. Se dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, imagine setecentos? Lógico que fui empurrado com o dobro de força de volta contra a mocréia! E como estar ali já não é desgraça suficiente, não é que o fio do meu mp3 player se embolou no brinco da desgraçada.

Mas embolou mesmo. Embolou muito. Ficamos ali naquele impasse. Ela querendo descer e eu querendo manter meu mp3 player a salvo das mazelas da humanidade. O motorista ameaçando ir embora e o povo gritando.

Conclusão: tive que descer colado com a orelha da maldita, desembolar o fio do brinco na rua e andar tudo a pé!

Agora me diz se eu mereço!?

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terça-feira, fevereiro 12, 2008

Competição de carnaval

Não quero comentar sobre o carnaval. Muito menos o fato de ter sido brutalmente retirado da cama às sete da manhã/madrugada (eu disse sete) de domingo, debaixo de um dilúvio descomunal para ir a um bloco. Você acredita?

Pois é, nem eu.

Acoplaram uma cerveja em minhas mãos. Por a-mais-b me persuadiram que, para não haver acidentes, o melhor seria pular junto com o povo que vinha desordenado ao som das marchinhas.

Acho marchinhas de carnaval tão empolgantes quanto aqueles bingos beneficentes de associação de moradores. Sempre que ouço não consigo evitar a visualização de uma tia velha em trajes vexatórios com uma das mãos para o alto enquanto a outra segura um saco de confetes.

Paguei uma fortuna por uma capa de chuva que além de não me proteger bulhufas do aguaceiro, acabou por criar um ambiente quentinho e molhado, altamente propício as bactérias e fungos.

O Rio de Janeiro inteiro se transformou em uma poça de mijo e posso garantir que meu parco senso de direção e mobilidade se encarregou de me fazer pisar em todas elas. Oquei, meu corpo me odeia, passemos pois a algo que eu ainda não saiba.

A falta crônica de banheiros públicos ou comerciantes com coração levou a multidão a se acotovelar pelos cantos na busca da satisfação mais primitiva de suas necessidades fisiológicas. Mentira, ainda que houvessem 10 mil banheiros, o povo ia mijar na rua mesmo. Excetuando eu que nunca, mas nunca faria tal coisa. Lógico, não sei se já disse antes, mas meu pinto é tímido. Já tentei terapia, aula de teatro mas ele não gosta de aparições para grandes platéias.

Como a bexiga tem razões que a própria razão desconhece, lá fui eu a uma parte escondida de um viaduto para aliviar as pressões da cerveja. Achei um cantinho ótimo, super intimista até. Eis que ao iniciar os trabalhos surge uma senhora gorda, vestida de odalisca com meia arrastão, na minha frente. Deu uma piscadela para mim. Fiquei meio estático, surpreso, ali com meu coiso na mão. Uma invasão esse negócio de alguém piscar pra você numa hora dessas, ainda mais com uma fusão tão arbitrária de cultura árabe com o ocidente, não?

Sem cerimônia ela abriu as pernas, afastou os véus e não me pergunte como, verteu de suas entranhas um jato (só pude concluir que um dos furos da meia arrastão estava providencialmente colocado lá na entradinha, no caso, saidinha). Lançou um riso cínico pressentindo o que viria depois. Não sei explicar, mas uma cascatinha de oxum surgiu entre as pernas da mulher. Era inacreditável. Sério, ela mijou uns três litros fácil.


Terminado o serviço (uns 10 quilos mais leve), ela aproveitou o ritmo da música para se sacudir enquanto deixava que os véus assumissem seu lugar de origem. Olhou para mim que como um pateta me concentrava para fazer descer míseras gotinhas e aproveitou para me humilhar (como se o aguaceiro já não o tivesse feito):

_Te molhei não, né colega?

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