Eu tenho ouvidos em perfeito estado e o mais natural então é escutar. Não entendo tanta revolta, mas há coisas em mim que eu não controlo mesmo. Mas já preparei minhas borrachinhas de ouvido, daquelas de piscina, e vou sim, andar com elas por todo canto. Se você me gritar na rua e por acaso, eu o ignorar, já sabe! Estou surdo para o mundo, pois tenho que preservar minha sanidade.
As pessoas me escolhem e logo eu, para falar suas batatadas! Minha audição não se presta para isso não! Eu hein...
Ontem, fui ao cinema sozinho assistir ao excelente O Jardineiro fiel, do diretor brazuca Fernando Meirelles. Como era dia de dois real no cinema da UFF, a sessão estava totalmente lotada de outros vagabundos que podem ver um filme as 16h, assim como eu. Na quilométrica fila, dei a sorte de ficar na frente de duas senhoras emperiquitadas e alegrinhas.
Elas conversavam frivolidades quando uma terceira mulher passou pelas duas. Uma delas, a com grandes brincos com motivos africanos (sim, até as peruas que freqüentam a UFF são cults), muito simpática, deu um puxão na coitada que passava desapercebida. Deise! – exclamou tão alto que aposto que esse será o nome da nova personagem de Fernando Meirelles. Lembra dela? – perguntou à outra que já estava com ela e esta balançou a cabeça em negativa.
_A filha dela fazia natação também, junto com Kátia – esclareceu a voz esganiçada enquanto os brincos africanos balançavam de um lado a outro, parecendo compor uma dança típica de alguma etnia.
_Lembrei! Como está sua filha? – respondeu eufórica e a julgar pela cara, não tinha lembrado nada, mas não queria ficar de fora do papo.
_Ta ótima...ta imensa, vocês nem reconheceriam...
Dei uma olhada bem vigorosa para a perua e sinceramente, a menos que ela tenha casado com um gigante, a filha dela não tem nenhuma condição estar imensa. A mulher devia ter no máximo 1,20 m!
Devidamente reconhecidas e entrosadas, o papo seguiu – para o azar de meus pobres ouvidos ociosos e intrometidos. A fulana que chegou por último danou a falar e a essa hora, a fila já começava a esboçar um movimento. Jeová seja louvado! Como nada é perfeito, quando eu já estava preste a chegar na roleta e libertar-me do trio, ouvi a tal mãe da gigante pronunciar suas derradeiras asneiras:
_Ah, quando eu vi que O Jardineiro Fiel tava passando aqui, falei pra Joel (que supus ser o infeliz do esposo): vou lá ver que história é essa de jardineiro ser fiel por que aqui em casa não pára um...ô raça minina! Não cuidam direito do jardim, somem...
Sério, foi por apenas um tiquinho que não virei e dei na cara dela! Porque não há razão para alguém ser assim, minha gente! Eu concordo que a culpa é minha de escutar conversa dos outros, mas é que esse tipo de gente anda por ai disfarçado de ser humano pensante.
Sentei-me na primeira fila, por conta de meu descontentamento com o mundo. Mas não é que me aparece um gordinho e senta do meu lado. Sem cerimônia nenhuma, ele começa a empurrar meu braço com seus braços gordinhos para ficar com a plenitude do braço da cadeira (quanto braço nessa frase, né?). Não satisfeito, ele me abre um saco de Cheetos Bolinha, daquele que fede horrores. Que ultraje! Passei o filme todo fungando aquela fedentina, com a voz da infeliz se repetindo em minha cabeça.
Da próxima vez que eu quiser assistir a um filme sozinho vou me lembrar de pegar um DVD!
Obs1: O texto está sem correção nenhuma pois estou deveras preguiçoso hoje.
Obs2: Na verdade, marquei com Lulu no cinema. Mas estranhamente, todas as vezes que eu marco algo com ela, surge uma matéria freelancer para a coitada fazer. Esse mercado de jornalistas freelancers deve de estar aquecido mesmo!!! Fico feliz de dar sorte para minha amiga!! Também acontecem outros imprevistos como Anne ficar sem parceiro para a aula de xaxado e Lulu ter que ir dançar com ela. E existem as muitas moléstias como dor no braço, cutícula inflamada, cólicas e dores misteriosas no buraco esquerdo da narina. Eu entendo tudo, Lulis, pode deixar!!!
:o)
