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terça-feira, novembro 27, 2007

Mundo imoral

Esse não é um texto alegre e nem poderia ser. É um texto infame sobre desgraças anunciadas e ainda assim anônimas desse nosso mundo imoral. É sobre a senhora de 65 anos que vendia salgadinhos e doces em uma barraquinha em frente à empresa onde trabalho, que não gostava de dinheiro inteiro, que talvez tenha tirado ontem uma carne moída para o jantar que nunca terá.

Sobre ela que morreu no tiroteio com uma bala perdida achada em seu peito. Um tiro de fuzil. E se choca pensarmos em uma senhora levando um tiro de fuzil, imagina o choque de ainda ter na mente os seus gritos, os das pessoas em volta e tudo misturado aos tiros. Incontáveis tiros.

Esse texto não é sobre as frivolidades burguesas de um menino zona sul em estranhamento com um mundo de cabelos esquisitos, cheiros e referências diferentes. Muito menos é uma indignação porca como a de quem perdeu um rolex na saída de um restaurante e foi ressarcido por um empresário sensibilizado. Não tenho sequer o direito de indignar-me.

Isso porque nenhum empresário e nem ninguém pode ressarcir a vida daquela mulher, a minha noite perdida de sono ou cotidiano marginal em que muitas pessoas vivem sem serem noticiadas, lembradas ou cuidadas.

Não há proteção, escolas decentes, cultura, saúde ou qualquer política pública para salvar essas pessoas. Não há ninguém interessado nelas, a não ser as grandes cadeias de varejo que sobem as vielas onde vivem para entregar móveis de qualidade duvidosa, vendidos sob juros gigantes.

Vez em quando, vêm alguns carros de polícia cheios de homens despreparados empunhando armas tão pequenas quanto seus salários. E lógico que eles atiram ao bel prazer esperando voltar para suas famílias, pois também não acreditam que nada possam fazer. Como se matando alguns dos criminosos, pudéssemos matar o crime de tê-los criado. E seria realmente incrível ter a certeza que por milagre, sem nenhum esforço conjunto, eles não mais existiriam. Talvez, quem sabe, desistam do crime, do tráfico e distribuam uns currículos com foto nas lojas do shopping.

A nossa polícia não é para proteger o cidadão. Ela é um instrumento de proteção apenas do Estado, do statu quo, dessa normalidade aparente que fica à 30 minutos daqui, onde os engravatados passeiam tranqüilos. Os tiros são para manter tudo como está. Quem ganha dinheiro com a desgraça e miséria desse país – sim, porque onde uns perdem, outros ganham - não mora sequer aqui, não têm conta nos bancos daqui, não ouve os tiros e não come dos salgados e doces da senhora morta.

O esforço de mudar tudo isso custaria certamente muito mais do que a caixa de balas. Abrir cabeças é a única alternativa às feridas de peitos abertos.

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segunda-feira, novembro 26, 2007

Gordos de contrato

Depois de um fim de semana de bebedeiras a lá Amy, sinto-me um tanto intoxicado hoje. Sei que minha vontade de só comer alface e beber água pelo resto da vida deve durar mais parcos vinte minutos, mas é legítima ainda assim.

Legítima, porém tola, visto que almoçamos no refeitório do trabalho e tudo que temos diariamente é uma coleção de carboidratos e gorduras sem fim. Em geral é bem gostoso apesar de pesado, mas é difícil trabalhar depois de topar com uma combinação de costelinha de porco, arroz, feijão e farofa de bacon no almoço. O povo abomina salada aqui por essas bandas, para o desespero daqueles que como eu e o Bottino, lutam para não evoluírem do status de semi-gordos para gordos nível 1.

Triste, mas cada um se agarra ao que tem, não é verdade?


E minha mãe sempre me dizia, em terra onde não há nutricionista, quem tem uma lata de óleo lisa é rei.

A outra opção não é uma opção. Tem uma barraca de mocotó (eca) que fica em frente ao posto de saúde, do outro lado da rua. Além do perigo de comer aquele treco, do de levar um balaço perdido no crânio, tem o de pegar algum troço ruim por lá. Fui comprar uma coca outro dia e vi tanta gente moribunda tossindo que cheguei a procurar um traje de proteção radiativa no mercado livre, mas a internet não anda com essa bola toda não.

Anda, Lislane, come mocotó que é forte pra fica boa logo – falou ríspida uma senhora de aspecto engordurado com uma criança de olhos esbugalhados e chumacinho de cabelo preso no cume da cabeça.



Inclusive, vendo o cabelo tão loucamente puxado, julguei ser aquele o único problema da pobre coitada que certamente melhoraria rápido se pudesse mexer ao menos algum músculo da face.

Se para ficar bom de algo eu tiver que comer esse tal de mocotó, então é melhor eu aderir a um bom plano funeral e escolher já um caixão bem fashion. Eu hein.


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>> Ilustração por Bottino que resolveu me agraciar novamente com seus desenhos.

>> Por falar em fashion, está acabando o prazo para ver a maravilhosa exposição Gringo Cardia de todas as tribos. Um repasso sobre a carreira de um dos arquitetos brasileiros mais versáteis de que se tem notícia. Vendo as incursões do onipresente Gringo em cenografia, teatro, design gráfico, artes plásticas, direção de arte, moda e audiovisual tive a ligeira impressão de que nas últimas décadas ninguém mais trabalhou no ramo além dele. Fiquei pretérito!

A exposição fica até dia 30/12 no Centro Cultural dos Correios e é 0800.

Centro Cultural Correios:
Rua Visconde de Itaboraí, 20 - Centro - Rio de Janeiro
Informações: (21) 2253-1580


UPDATE1>>


Assim, não tem nem como descrever, mas chove tiros nesse momento aqui em Del Castigo. Mas chove mesmo. Para conseguir ir embora, prefiro pensar que Deus está fazendo pipoca.


UPDATE2>>


Acabou de pegar uma bala no telhado aqui da empresa. Desespero!


UPDATE3>>


Na fábrica, está todo mundo deitadinho esperando os pipocos pararem. Maravilha isso, não?


UPDATE4>>


To deitado agora!


UPDATE5>>

Essa bala bateu na parede e caiu em cima de um dos funcionários que estava deitado no chão da fábrica. Uma mulher foi baleada aqui na frente, mas são tantas notícias confusas que ninguém sabe de mais nada.


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Pedido atendido


O Ego estampa hoje uma matéria que afirma que Amy topou ir para uma clínica de reabilitação. Tudo bem que o site se rendeu a tentação e usou o trocadilho "sim, sim, sim", mas eu até perdôo.

Viu como a oração tem poder?!

Para conferir a matéria completa clique aqui, aqui, aqui.
(tá, já parei)


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segunda-feira, novembro 19, 2007

Oremos juntos

Senhor Deus misericordioso,
Venho pedir com fervor.
Porque tu és o único que pode mudar isso, Pai.

Faça com que Amy Winehouse viva para ao menos gravar seu novo álbum.
Tira aquele Jack Daniels de suas mãos Pai.

Vai limpando toda heroína daquele crânio Senhor.
Brota com uns dentes naquela boca péssima Deus.

Pode ser um rots que eu nem ligo.

Senhor meu Deus, se até Lindsay conseguiu, por que não Amy, que ao menos canta de verdade?
E vê se deixa, por favor meu Deus, aquele marido tranca rua lá na prisão que ninguém pode com aquilo não, gente.

Amém.

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segunda-feira, novembro 12, 2007

Tiro na rotina

Na sexta, faltando apenas vinte lindos e resplandecentes minutos para o fim do expediente, fui chamado para uma reunião. Pode uma coisa dessas? Como não é de costume me chamarem para reuniões apenas para elogiar meus faceiros olhos pretos, pensei: ê vem merda.

A caminho do outro prédio, percebi que tiros de AR15 cruzavam o céu. São momentos mágicos que só Rio pode proporcionar a você. Pensei em como minha camisa nova ia ficar feia com uma bala no meio, mas talvez fosse melhor não me concentrar em bens materiais porque mamãe disse que pessoas assim não entram no reino dos céus.

Depois de passar pela saraivada de tiros, fiquei sabendo de um anúncio que tínhamos que fazer. Dead line: segunda. Adaptação de uma campanha alemã.

Odeio adaptar qualquer coisa que seja!

Bom, estamos na segunda e o fechamento da revista não pode ser adiado.

Você tem os arquivos? Você tem as fotos? Você tem as fontes?
Você fala alemão?

Pois é, nem eu!

update> Não tem ilustra porque o Bottino, aquele perebento todomado pelo bichinho do capitalismo, está todo prosa com um celular novo que faz de um tudo na vida. Além disso, ele foi ao médico consertar as suas bicheiras. Emeiau respondido.

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quinta-feira, novembro 08, 2007

It´s Britney Bitch!

Baixaram o novo álbum da Britney aqui na agência. Na surdina, como bom sagitariano curioso, fui ouvir para ver qual é. E não é que eu gostei, esse garoto?

Ela pode ser doidivanas, transviada, péssima mãe e ter um gosto duvidoso para roupas de baixo (quando as usa), mas o pop rasgado e dançante de Blackout é muito interessante. Cru, sincero, sensual e diferente da velha fórmula de intercalar canções dançantes com baladas xaropes do início da carreira.

Além de proporcionar uma ótima remexida, o álbum parece ideal para momentos más calientes. Para os adeptos de trilha sonora nas horas de fornicação, vale a pena experimentar.


Por falar nisso, qual seria a playlist ideal de músicas para as saliências nossas de cada dia?
Eis a minha:

- The RoofMariah Carey
- Special KPlacebo
- Fire with fireThe Gossip
- Say it rightNelly Furtado
- Erotica Madonna
- Sexual Healing- Marvin Gaye
- Gimme MoreBritney Spears
- Sex BackJustin Timberlake
- Loverboy Mariah Carey
- Loving every minuteLighthouse Family

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quarta-feira, novembro 07, 2007

Dia de fúria

A rotina estressante do dia-a-dia mexe com os humores de qualquer um, incluindo os desse pobre mortal que vos bloga uma vez a cada ano bissexto. A vontade que dá é mesmo de xingar, chutar as pessoas que andam devagar quando você já está atrasado meia hora, empurrar a gordinha que trava a escada rolante do metrô, esganar aquele ser que deixa pra contar as moedinhas na hora de pagar a passagem...

Enfim, tudo vira motivo para desencadear um ataque de fúria repentino. Normal. Mas hoje presenciei um que me deixou um tanto quanto chocado.

Desavisado que sou, esqueci meu amado passa-filho-da-puta (vale transporte eletrônico) e tive que entrar na fila para comprar bilhete do metrô. Corno! Na minha frente, um homem em seus trinta e poucos anos entregou todo-todo uma nota de cinqüenta reais para o caixa.

_Teria menor, senhor? – indagou o rapaz enquanto segurava o dinheiro.

Para muitos de nós uma frase normal, sem grandes problemas ou ofensas. Para o desgraçado - cuja mulher deve ter se recusado a fazer-lhe o fio terra - que comprava o bilhete não. O infeliz começou a gritar com o pobre do caixa assim sem eira nem beira. “É claro que eu não tenho”, “seu burro, se eu tivesse, teria pago com o dinheiro trocado”, “que pergunta mais idiota” – gruía o descontrolado entre outras argumentações incompreensíveis.
Pena que não coloquei minha camisa de força na mochila.

O caixa respondeu que era uma pergunta padrão, o que irritou ainda mais o fulano que berrava com uma voz grave de comentarista de rádio AM.

Acho inclusive que ele é barítono, mas abafa.

Estrela na calçada da fama para você querido! Agora toma uma maracujina porque quero comprar meu bilhete sem discutir o treinamento dos caixas do metrô ou o sexo dos anjos, oquei?

Mas quem disse a confusão não parou por ai?

A situação começou a piorar quando o rapaz acuado retirou um bolo de notas de dois reais que serviriam de troco para o estrupício. Feito um louco, o homem se pôs a bater no vidro para exigir que troco fosse inteiro. Ainda disse com desdém para o pobre coitado que era por essas e outras que ele estava ali naquele trabalho esdrúxulo e que nunca passaria de um “caixazinho” nunca na vida.

Aí fiquei puto dentro das calças. Se há uma coisa no mundo que me tira do sério é humilhação. Quem ele pensa que é? Onde já se viu alguém com sapato da Mr. Cat ficar humilhando os outros?

Comecei a pensar na parca probabilidade de minha chefe acreditar que eu havia ficado preso na fila atrás de um barraqueiro mal comido qualquer. Descrente dessa possibilidade, alcei meus olhos em busca de alguma ajuda. Sei lá, um anjo da guarda, um pai de santo ou um segurança que pudesse dar uma porrada, uma dedada, algo que acalmasse aquele encosto e o fizesse ir pra outro plano. Desencarna mizifio...vai pra luz!

Os seguranças chegaram e umas pessoas se aglutinaram (sim, porque o povo gosta de um furdúncio). Uma gordinha que degustava satisfeita um churro babado de doce de leite estava quase cuspindo na cara do maldito e foi quando resolvi ir pra outra fila. Se sobra uma cusparada daquela pra cima de mim eu engordo uns cinco quilos.

Vim no sacolejo do metrô refletindo sobre como podemos tornar o mundo pior com apenas um gesto ou uma palavra. O bom é que toda moeda tem duas faces e da mesma forma é possível tornar tudo menos complicado. Watch yourself!
Eu sei que estou dando uma de Geninho no fim de cada episódio de She-ra, mas todo mundo tem seus dias de Paulo Coelho.

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quinta-feira, novembro 01, 2007

Sim, eu leio bulas

Avalox pode provocar reações gastrintestinais (dor abdominal, náusea, vômito, diarréia, alteração do paladar), dor de cabeça, vertigens, sensação de fraqueza, mal-estar, dores no peito, nas costas ou nas pernas, palpitações, reações de pele, reações alérgicas, ou de hipersensibilidade, dores musculares e nas articulações, insônia, nervosismo, ansiedade, depressão, sonolência e candidíase vaginal.

(Ufa. Ainda bem que não tenho buceta.)
Notas mentais:
-Esse troço era para me fazer ficar bom? Mesmo? Mesmo?
-Quantos outros remédios vou ter que tomar pra consertar tudo isso?
-O preço é diretamente proporcional ao tanto de merda que o troço traz?
-Mulher só se fode. Além de todos os males, o maldito do remédio ainda estraga a porra da xoxota. Simone de Beauvoir deve estar reencarnando só pra tratar disso!
-Ao menos não diz nada sobre engordar ali. Tá todo mundo de prova.
-Gostei da história da hipersensibilidade! Dá para bolar umas coisinhas quanto a isso.
-Preciso nunca mais ler bula de remédios.

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