Estar chegando aos trinta mexe muito com a cabeça de um ser humano. Quando você é uma geleca ambulante que fuma, bebe e come porcarias, isso tende a se intensificar.
Mesmo com minha intolerância patológica a exercícios, atochei na cabeça que precisava fazer algo para não só sair de meu estado colóide, como ter a perspectiva de ainda poder esticar os braços daqui a vinte anos.
Decidido, fui procurar o exercício que me salvaria das artrites, artroses e ataques cardíacos vindouros. Fato é que estou uns quarenta anos sem mexer um músculo sequer, logo malhação está fora de cogitação. Além de achar sacal, não há em mim resquício de disposição de ficar naquele ambiente de exposição pública. De certo que iam me colocar aqueles pesos coloridos na mão e eu, sem controle motor algum, ia ficar anos sem nenhum resultado efetivo.
O Leo Linha, que é o mais engraçado ser vivente, me chamou para fazer uma aula com ele. De hi-dro-gi-nás-ti-ca. Com ele e com toda, mas toda a terceira idade de Niterói. Agora você imagina o que não foi?
Fiz menção de perguntar ao instrutor se não tinha plantão de um geriatra à beira da piscina, mas resolvi esquecer quando ouvi de uma das vovós que a aula de boxe tailandês tinha sido bem puxada.
E lógico, carreguei o Bottino porque pagar mico sozinho é impraticável. Então estávamos os dois em uma piscina lotada de velhas vestidas com maiô e toca de natação. O professor começou o aquecimento e distribuiu aqueles vexatórios macarrões de espuma para todos.
Como vergonha pouca é bobagem, quem disse que eu conseguia fazer algum movimento? As velhas passavam por mim arrasando com o macarrão enquanto eu permanecia atolado feito um mamulengo coxo.
Uma senhorinha de toca vermelha me perguntou sorridente se eu estava em processo de reabilitação por causa de algum acidente e por mais triste que isso parecesse, resolvi dizer que sim. Para a outra que já chegou cheia de marra me questionando acerca do meu pífio desempenho, eu bufando respondi “é...é...é que eu fumo”.
_Eu também – respondeu a maldita enquanto seguia feliz esticando cada lado do macarrão até o pé freneticamente.
Realizei os exercícios em dupla com o Leo e quando vi o Bruno, coitadinho, fazendo par com uma coroa cheia de plástica e com a cara da Lisa Minelli, não consegui mais completar nenhuma seqüência. Caí na gargalhada e quase me afoguei.
Ao sair da piscina arrastei meu corpo moribundo até o vestiário onde mal conseguia me enxugar de tão doído. Esperei um tempão até que todas saíssem. No saguão senti um forte cheiro de talco (velho ama talco mais que tudo). E não é que encontro com a velha do cigarro fumando feito uma tocha na porta da academia, minha gente?
Power Vexame!
Acho que vi essa senhora lá na hidroginástica! Putz, não tenho boa memória visual.