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terça-feira, outubro 30, 2007

Ministério da Saúde Adverte: sinusite faz mal ao bolso

A dor louca que consumia meu crânio era nada além de uma sinusite arrasa-quarteirão. Coisa pouca, bobagem – segundo a rapariga de branco com cara de recém formada que visitei, no domingo, às pressas.

Puxou meus olhos, enfiou luzinhas em meus ouvidos e ainda abriu minhas podres narinas, das quais eu gosto muito, com uma pinça metálica. Fez alguns sons e se pôs a prescrever uma receita que me levou mais de cem reais e que não incluía nenhum antibiótico.

_Esses médicos hoje em dia têm medo de remédio. Não gostam de remédios esses médicos, nunca vi disso – bradou titia com sua sabedoria nostálgica na certeza de que tudo era melhor no Méier da década de 50.

A cabeça continuou pesando e doendo e foi piorando tudo assim além da conta. Convencido por mamãe, fui parar na emergência de um outro hospital aqui bem perto de casa. Não parecia o mesmo, pois uma reforma deu ares de cenário de novela global ao lugar com móveis em madeira tabaco e cadeiras modernosas na recepção. Achei jovem.

As recepcionistas eram as de sempre, mas também estavam recauchutadas com cabelos bem presos e muito mais sombra em cores chamativas acima dos olhos. Por um instinto marqueteiro procurei por placas de patrocínio Avon, mas nem tudo ainda está vendido.

Elas pareciam estranhamente felizes com isso, digo, com suas pestanas coloridas. Se a dor de cabeça não me impedisse formular qualquer palavra, sentaria com elas para um papo franco sobre como o uso de tanta sombra as deixa com um ar noventista de propaganda da Benetton Colors, antes das polêmicas de Oliviero Toscani.

O médico também era novo, mas era mais bem sucedido em apresentar um ar senil. Ficou comigo cinco minutos e enquanto me ouvia, uma enfermeira apareceu sorrateira para tirar meu sangue. Ela não tinha sombra, o que achei bem providencial para alguém que enfia agulhas nas pessoas.

Pediu-me que esperasse em outra recepção para fazer um raio X de face. Lá encontrei os móveis antigos desovados e nenhum vestígio do clima hype da entrada. Mamãe já tinha feito amizade com uma peruana que também esperava pelo exame. Em vão busquei me interar do assunto. Já tentou falar espanhol com cefaléia?

Impraticável.

Mamãe continuou no seu empenho em superar a barreira dos idiomas diferentes e não se acanhava em fazer gestos largos. A meu ver, a peruana não entendia nada, coitada. Mas mesmo assim mamãe contou-lhe animada todo o histórico de doenças que eu e meu irmão tivemos ao longo da vida.

Fiz o bendito raio X e depois de horas de integração latino-americana que só me fazia pensar em o quanto Bolívar ficaria satisfeito, fui chamado pela mesma moça que tirou meu sangue. Polivalente ela, não? Além do trato com agulhas, é extrovertida e tem traquejo social para lidar com pessoas. Novas exigências do mercado de trabalho – pensei.

O doutor mostrou-me meu crânio em contra luz. Senti-me meio desnudo, sei lá. Mal nos conhecemos e ele já vê minhas intimidades sem nem me oferecer um café. Não ofereceu mesmo. Enveredou-se por escrever uma receita com todos os remédios que os representantes farmacêuticos buzinaram-lhe no ouvido este mês. Nunca subestime o poder de bloquinhos, canetas e amostras grátis.

Na farmácia tive ânsia de vômito quando o atendente me disse que o total da receita era de 300 reais. Quase catei minha sinusite e fui para casa tentar uma solução harmônica para o nosso relacionamento. Nem acho ela tão ruim assim e o nome é inclusive sonoro, si-nu-si-te.

Cantei, dancei a polca e fiz de tudo na farmácia para pedir um desconto, mas o gerente tinha uma pedra de gelo em lugar do coração, aquele mequetrefe. Paguei os malditos vários reais (trezentos para ser exato) e fui-me embora todo pobre.


Minha gente, tem que vacinar o povo contra sinusite. Tem vacina pra isso não?

Olha, vai dar morte se esse antibiótico não me colocar sambando em alguns dias. Não quero nem ver...com sombra ou sem sombra, eu vou botar o hospital abaixo.

Minha mesa da cabeceira, ô que faceira!

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sábado, outubro 27, 2007

O mal em forma de dente

E não é que eu acho que maldito do meu siso inventou de nascer justo no fim de semana!? Minha cara está inchada, a cabeça dói com qualquer leve movimento, passar a mão no cabelo dói, tudo dói.

Isso não é um siso, é um encosto em forma de dente, minha gente (juro por tudo que essa rima não foi intencional. Não culpo você se me odiar por isso).

Mamãe - com suas receitas caseiras que curam todo e qualquer mal mundial – tanto falou que me convenceu a atochar um gigantesco saco de gelo em minha cara. Espero agora poder recuperar os movimentos do rosto algum dia. Fiquei satisfeito, pois geralmente, a maioria das curas envolve legumes posicionados estrategicamente em partes do corpo e menu degustação de chás horrendos.

O que eu já coloquei de pepino e batata na testa, berinjela no sovaco e bebi emulsões fétidas de ervas que nem sabia que existiam não está no gibi. Até água com farinha e goiaba já tive que tomar para curar diarréia, receita essa de Rosita, uma passadeira nortista que tinha aqui em casa que mais falava do que passava roupa, coitada.

Ótimo sábado para os que não têm dentes nascendo e icebergs acoplados ao rosto!

>> Tá no Rio de Janeiro com os dentes em ordem, então levanta a bunda do sofá e vai ver a excelente, magnânima, toda-toda Zezé Polessa em “Não sou feliz mas tenho marido”.


Fui no fim de semana passado e estou embasbacado até agora! Confere lá!

Teatro Clara Nunes: Shopping da Gávea, 3º piso.
Rua Marquês de São Vicente 52, Gávea.
Quinta à Sábado, às 21h. Domingo, às 20h.

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terça-feira, outubro 23, 2007

Avantajado alvo

Olha que simpatia! Estou sentadinho em minha mesa, como moço responsável que sou, e acabo de ouvir uma saraivada de tiros vindos da favela que fica aqui atrás da empresa.

Favela essa, que tem muito pouco tempo, descobri ser o Complexo do Alemão. E você querido leitor imaginário de outro estado, engana-se quando pensa que esse nome vem de uma presença massiva de descendentes germânicos no local.

Trata-se de um complexo de favelas de altíssima periculosidade. Para te atualizar, sabe Tropa de Elite? É bem tipo aquilo, mas sem a maquiagem, o sangue cenográfico e nem aquela Débora Secco genérica (Fernanda de Freitas).

Que delícia né?

Mas não tem problema. É só não usar vermelho que não vou ser executado sumariamente. Claro, ser atingido por uma bala já não é tão fácil assim de ser evitado porque estou gigantesco de gordo e ocupo área demais. Além disso, meu cabelo está tão feio que parece um capacete da PM. De longe, dá pra confundir, juro.


>>>Ilustração por Bruno Bottino.

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quarta-feira, outubro 10, 2007

Hidratação a bafo

As portas do metrô se abriram. A manada desceu enfurecida e desnorteada de tudo. Meus pés, em um movimento involuntário e apavorado, se grudaram ao corpo, coitados. Na última vez em que levei um pisão de uma gorda calçando plataformas com um horrendo solado de cortiça, vi muitas estrelas no céu.

Sandálias com solado de cortiça são armas nos pés dessas mulheres. São sim. Elas saem distribuindo pisões aleatórios por conta de uma tal emancipação feminina armada. Desconfio que o paiol seja na Di Santinni.

Sempre me pego pensando se vale a pena ou não explicar com carinho que cortiça não serve mais nem para pregar fotos. Mas eu tenho que aprender a não ser palmatória do mundo, sabe?

Entrei com cautela no vagão e um avassalador odor tomou de sobressalto minhas narinas. Se o metrô de Paris fede a perfume francês, o da Zona Norte carioca é puro creme de cabelo barato.

O primeiro cheiro que identifiquei foi o de creme três cores, àqueles de pote imenso que custam 3 reais em qualquer farmácia mequetrefe. Umas nuances de kolene, outras de biorene e frutics a vontade. Zero sinal de kérastase no ar, lógico.

De certo que não faltava Nielly Gold Chocolate, para alegria de Carolina Ferraz que, coitada, é mantida pelos reclames que faz pra marca.

Cheguei no trabalho emplastado e intoxicado.