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terça-feira, junho 19, 2007

Tristes metafísicas

Por que eu não escrevo mais?
Por que?
Por que?

Muito filosófico isso. Quase metafísico.
Mas vamos dar uma explicação física, tangível.

São 01:00 da madrugada e eu estou tra-ba-lhan-do. E ainda tenho que atravessar toda uma baía para chegar em casa e dormir algumas míseras horas e migrar novamente.

Acabei de perceber que escrevi casa com z e por isso resolvi fazer outra coisa. Não deveria de maneira alguma essa distração tratar-se de escrever aqui, mas não consegui pensar em nada mais que pudesse me relaxar.

Na verdade, acho que tem uma coisinha.

Putaquepariuxoxotaporracaralho!

Vou ali tomar café.

sexta-feira, junho 08, 2007

Imagine there´s no bitches


Essas coisas sempre pegam a gente de surpresa, não? Eu estava naqueles dias de cabelo felpudão, uma roupa qualquer, uma espinha protuberante adornando a boca e meias escandalosamente furadas.

Mas oquei, sou um ser evoluído e nenhuma dessas futilidades vai me impedir de ir ao Fashion Rio, o evento mais badalado e frequentado por todos os descoladinhos cariocas. Comida grátis, bebida grátis e a possibilidade quase antropológica de ver vips vestidos com roupas que em seis meses eles se envergonharão muito de terem usado. Impossível de perder.

Estamos lá no maravilhoso Espaço do Caderno Ela, do Jornal O Globo, comericando, bebericando e fazendo cara blasé de quem não liga a mínima para estar ali. Isso é o que mais importa em um evento como esses, certo?

Como o teor etílico é o maior agente socializador da história, umas gansas iniciaram uma simpática conversa conosco. O papo girava em torno de amenidades como a sexualidade dos famosos, as vestimentas bizarras dos presentes e atualidades um pouco ampliadas por meu exagero natural potencializado por gigantescas quantidades de prosecco. Eis que do nada, uma das malditas resolve abrir sua grande boca e interromper a conversa com uma observação um tanto quanto inadequada.

_Gente!

Eu não se a intenção dela era ser discreta mesmo, mas a mulher falou tão alto que Gisele praticamente parou na passarela, lá do outro lado do evento.

_Sabe quem você parece??

Fudeu. Ela está apontando para mim. Ou dou na cara dela agora e interrompo seu raciocínio, que convenhamos, não tem muita chance de ser elaborado, ou me conformo em ouvir algo que possa arrasar com minha frágil auto-estima. Quais são as chances dela dizer Orlando Bloom ou Colin Farrell? Se ela disser Faustão eu caio durinho aqui.

_Cara, impressionante...é muito parecido. É demais!

Agora ela optou por me torturar lentamente. É o Jack Bauher de balonê. Ótimo isso. Fala logo concubina do capiroto!

_Você parece filho da Yoko Ono com John Lennon! – exclamou alto entre fartas risadas incluindo as minhas que significavam na verdade um desejo profundo de assassiná-la friamente.

Como assim? Por que fazer isso comigo? Eu perguntei algo, perguntei? E nem fiquei expressando o que acho dela, fiquei? Eu poderia jurar que seu cabelo foi cortado por Pedro, o barbeiro de papai há quarenta e cinco anos, mas não falei nada. Poderia ter falado que balonê é coisa de três estações atrás. Pergunta se eu falei?
Que mocréia!

Odeio esse mundo fashion. Quero ir para um lugar onde as pessoas não achem semelhanças entre mim e uma japonesa cabeçuda e feia. Se ainda fosse a Lucy Liu poxa.

>>> Como sempre, ilustração (caneta+photoshop) por Bottino Boy.

Mudando de assunto, essa é a melhor notícia da internet hoje.



Nem no marxismo anorexia vira greve.
Claro, quem se importa com isso nos EUA.

terça-feira, junho 05, 2007

Como uma jaca



Eu prezo muito a minha imagem, sabe?! Por isso nunca fui dado a realizar feitos que de alguma maneira pudessem vir a comprometê-la. Nada de ficar de pé em coletivos sem me segurar, andar me equilibrando por beirais de canteiros, ou descer do ônibus em movimento dando saltos acrobáticos. Cair no chão na frente das pessoas é uma idéia que não me seduz muito.

Desde de pequeno aprendi, a duras penas, que meu senso de equilíbrio é quase insuficiente para me manter de pé e conseguir isso é nada mais, nada menos do que uma questão de dignidade.

Hoje, no metrô, enquanto estava bem afixado às barras de ferro que servem de apoio para os infelizes como eu, uma bicha já senhora se equilibrava à minha direita. Sem tocar em nada, absoluta no carão.

Baixinha e magricela, além de sobrancelhas super delineadas (para dar aquela valorizada no olhar fatal) e um charmoso topetinho aloirado, a Dona Bicha vestia uma espécie de versão viada da calça branca de pregas da boêmia carioca e uma blusa bege coladinha. O sapato preto exibia grossos saltos protuberantes para dar aquele up na silhueta.

Passa uma estação e ela está lá, vitoriosa, a equilibrar-se entre os que entram e saem (sem maldade ein). Outra estação e mais outra, agora com a perninha caprichosamente jogada de lado (manda ela pro Cirque du Soleil). Faltando apenas uma estação para meu destino laboral, um solavanco sacode o trem. Como um foguete, o filhote de Clóvis Bornay foi arremessado na minha frente com direito a grito histérico de pavor e tudo.

Lá estava ela, coitada, toda esparramada no chão como uma jaca podre. Arrasada. Destronada. Rodeada por risadas e escárnios.

Estendi a mão para ajudar a pobrezinha que aceitou prontamente. Fez pose de Rainha da Inglaterra e com palmadinhas leves espantou a poeira do trazeiro. Me agradeceu como se eu não tivesse feito mais que minha obrigação e voltou à sua pose inicial, sem se preocupar com nada.

Certamente, é alguém calejado de tantos tombos por tentar se equilibrar nessa vida.


>> Ilustração (caneta e photoshop) por Bruno Bottino.


Em tempo, meu cabelo está exatamente assim hoje:

sexta-feira, junho 01, 2007

Emo-indie de boy band

Saí de casa apressado, claro, sem perceber que estava vestido meio emo-indie de boy-band. No ônibus, olhares de reprovação dos velhinhos despertaram-me uma brasa de desconfiança. Algo estaria errado?

Nas barcas, os caçadores-de-emprego-público, mais conhecidos como advogados e/ou estudantes de direto me olhavam com certa empáfia do alto de seus colarinhos apertados por gravatas fazendo tom sobre tom com as camisas. (só jeová!)

O olhar cúmplice de uma menina de mecha rosa no cabelo e vestidinho preto de bolinhas foi a deixa final para a certeza de que havia excessos. No vidro fume de um Fiat Elba, (eu sei...eu sei...não tinha um melhorzinho não?) parado aqui perto do trabalho, veio a conclusão:

_Gente, eu sou um Panic at the disco!