Essas coisas sempre pegam a gente de surpresa, não? Eu estava naqueles dias de cabelo felpudão, uma roupa qualquer, uma espinha protuberante adornando a boca e meias escandalosamente furadas.
Mas oquei, sou um ser evoluído e nenhuma dessas futilidades vai me impedir de ir ao Fashion Rio, o evento mais badalado e frequentado por todos os descoladinhos cariocas. Comida grátis, bebida grátis e a possibilidade quase antropológica de ver vips vestidos com roupas que em seis meses eles se envergonharão muito de terem usado. Impossível de perder.
Estamos lá no maravilhoso Espaço do Caderno Ela, do Jornal O Globo, comericando, bebericando e fazendo cara blasé de quem não liga a mínima para estar ali. Isso é o que mais importa em um evento como esses, certo?
Como o teor etílico é o maior agente socializador da história, umas gansas iniciaram uma simpática conversa conosco. O papo girava em torno de amenidades como a sexualidade dos famosos, as vestimentas bizarras dos presentes e atualidades um pouco ampliadas por meu exagero natural potencializado por gigantescas quantidades de prosecco. Eis que do nada, uma das malditas resolve abrir sua grande boca e interromper a conversa com uma observação um tanto quanto inadequada.
_Gente!
Eu não se a intenção dela era ser discreta mesmo, mas a mulher falou tão alto que Gisele praticamente parou na passarela, lá do outro lado do evento.
_Sabe quem você parece??
Fudeu. Ela está apontando para mim. Ou dou na cara dela agora e interrompo seu raciocínio, que convenhamos, não tem muita chance de ser elaborado, ou me conformo em ouvir algo que possa arrasar com minha frágil auto-estima. Quais são as chances dela dizer Orlando Bloom ou Colin Farrell? Se ela disser Faustão eu caio durinho aqui.
_Cara, impressionante...é muito parecido. É demais!
Agora ela optou por me torturar lentamente. É o Jack Bauher de balonê. Ótimo isso. Fala logo concubina do capiroto!
_Você parece filho da Yoko Ono com John Lennon! – exclamou alto entre fartas risadas incluindo as minhas que significavam na verdade um desejo profundo de assassiná-la friamente.
Como assim? Por que fazer isso comigo? Eu perguntei algo, perguntei? E nem fiquei expressando o que acho dela, fiquei? Eu poderia jurar que seu cabelo foi cortado por Pedro, o barbeiro de papai há quarenta e cinco anos, mas não falei nada. Poderia ter falado que balonê é coisa de três estações atrás. Pergunta se eu falei?
Que mocréia!
Odeio esse mundo fashion. Quero ir para um lugar onde as pessoas não achem semelhanças entre mim e uma japonesa cabeçuda e feia. Se ainda fosse a
Lucy Liu poxa.
>>> Como sempre, ilustração (caneta+photoshop) por
Bottino Boy.
Mudando de assunto, essa é a melhor notícia da internet hoje.
Nem no marxismo anorexia vira greve.
Claro, quem se importa com isso nos EUA.