Hoje pela manhã.
7:02h
Saio todo cheiroso de casa. Ainda lutando contra o sono e tentando executar a difícil tarefa de colocar minhas chaves na mochila, não percebo a aproximação do maldito carro de combate à dengue. Quando me dou conta do mal iminente, tento desesperadamente alcançar meu portão. Em vão.
O fumacê (termo popular atribuído ao veículo e você já pode imaginar o porquê) despejou sobre mim toda a fumaça de combate ao maldito mosquito existente no mundo. Toda mesmo! Sou agora o maior instrumento de controle da doença no Rio. Quem quiser se proteger, basta ficar perto de mim, oquei?
Agora estou tossindo, com olho ardendo, todo fedido e com o cabelo super felpudo e armado!
Isso é hora de combater doença gente?! Me diz? O povo todo saindo pro trabalho...
7:15h
Recebo a feliz notícia de que por um motivo desconhecido algum-sem-mãe derramou sabão na pista da Ponte Rio-Niterói e houve um acidente. Merda! Salto do ônibus que já estava parado no engarrafamento. A cidade toda está parada e é impossível chegar ao centro para pegar as barcas. Temos um algum plano B?
Quero um helicóptero!
Quero um helicóptero!
Quero um helicóptero!
7:45h
Depois de 30 mim de caminhada, chego suado à Icaraí, onde pretendo pegar um novo ônibus em direção à estação de Charitas. Lá, catamarãs (lanchas bacanas que balançam e me deixam profundamente enjoado) caríssimos levam uns poucos abastados para o Centro do Rio. O Carlos está esperando também e agora não me sinto mais o único corno infeliz ilhado solitário.
8:00h
Pelo movimento de milhões de pessoas no ponto, percebemos que não vai rolar o buzão. Caralho! Começa a batalha por um táxi. Todos em Niterói tiveram a mesma idéia. Ao telefone, a mocinha me diz que os táxis demorariam de trinta a quarenta minutos. Xinguei ela sem a mínima culpa e há esse instante, já me sinto aliviado. E tem gente qu não gosta de palavrão, não é mesmo?
O Bruno me relata, por celular, que está a trinta minutos dentro de um ônibus sem que o maldito se mova nem um milímetro sequer.
8:30h
Conseguimos um táxi e estamos na fila quilométrica de pessoas que já estavam sabendo de tudo e tiveram a mesma merda de idéia de pegar o catamarã! Odeio a velocidade de informação do mundo contemporâneo.
Quero morar no interior!
Quero morar no interior!
Quero morar no interior!
9:10h
Chegamos à Praça XV, Centro do Rio. No Catamarã, topamos com vários amigos desesperados. Cada qual com sua história de malabarismos para chegar ao trabalho. O que é o capital, não é minha gente?
Caminhamos em grupo. Somos praticamente uma reedição de O Mágico de Oz em busca do caminha ideal para chegar ao arco-íris dos economicamente ativos!
Não, eu não estou drogado.
O Bruno, coitado, continua no mesmo ônibus, poucos metros à frente de onde estava há uma hora atrás.
9:30h
Pego o metrô lotado. Estou espremido entre uma gordinha falando alegre ao celular (óbvio que ela não veio de Niterói) e um senhor robusto com roupa de pagodeiro e perfume doce. A gigante bolsa esportiva da mulher de trás está pressionando uma de minhas costelas. Maldita! Tenho pulsões quase incontroláveis de assassinar alguém. Preciso de um Tylenol urgente (ainda que seja puro placebo, ele me deixa calmo e feliz)!
9:45h
Chego ao trabalho atrasado, suado, esfumaçado, fedido e com menos vinte e cinco lindos e cheirosos reais no bolso. Hoje eu mato um.
>Não tem desenho porque o diretor de arte chegou bufando às onze e está abarrotado de trabalho.