Send As SMS

sexta-feira, maio 25, 2007

Do fundo da minha imaginação doente


Vocês sabem que no Rio de Janeiro a gente encontra artistas a toda hora. Os de segunda categoria (leia-se àqueles que freqüentam a Luciana Gimenez) e os ex-bbbs são os mais fáceis.

Mas o dia com que sonho mesmo é encontrar a Xuxa. Todos os dias quando dou uma decidinha no coffee shop do prédio, vejo o programa da loira eu imagino a cena:

Estou em uma livraria a folhear despretensiosamente livros caros que não tenho reais suficientes para comprar quando entre as prateleiras avisto uma penugem loira. É Xuxa? Gente, é Xuxa – afirmo a mim mesmo.

Como quem não quer nada, com um livro na mão para despistar os seguranças, eu me aproximo lentamente. Vou até ela simulando um pedido de autógrafo e como quem profere uma profecia divina, com discrição (porque sou muito discreto) seguro em seu braço...

_Pára Xuxa.

Ela olha para mim com desconfiança. Em seu rosto, uma expressão apreensiva, coitadinha. Sua pupila dilata. Ela faz menção de soltar o braço e eu aperto mais. Ela olha em volta em busca de um segurança, da Marlene, da Simone...Nada.

_Pára enquanto há tempo ainda – repito veemente. Pára enquanto ainda lhe resta dignidade.

Solto seu braço e dou o último olhar antes de deixá-la atônita e sozinha entre os livros de auto-ajuda.

No dia seguinte, ela anuncia sua saída do programa e faz sua última dancinha ridícula.

Missão cumprida!

Xuxa entrou na onda Doris Guisse.

>>> Ilustração (caneta+photoshop): Bruno Bottino

quarta-feira, maio 23, 2007

Diário de um périplo

Hoje pela manhã.

7:02h

Saio todo cheiroso de casa. Ainda lutando contra o sono e tentando executar a difícil tarefa de colocar minhas chaves na mochila, não percebo a aproximação do maldito carro de combate à dengue. Quando me dou conta do mal iminente, tento desesperadamente alcançar meu portão. Em vão.

O fumacê (termo popular atribuído ao veículo e você já pode imaginar o porquê) despejou sobre mim toda a fumaça de combate ao maldito mosquito existente no mundo. Toda mesmo! Sou agora o maior instrumento de controle da doença no Rio. Quem quiser se proteger, basta ficar perto de mim, oquei?

Agora estou tossindo, com olho ardendo, todo fedido e com o cabelo super felpudo e armado!

Isso é hora de combater doença gente?! Me diz? O povo todo saindo pro trabalho...


7:15h

Recebo a feliz notícia de que por um motivo desconhecido algum-sem-mãe derramou sabão na pista da Ponte Rio-Niterói e houve um acidente. Merda! Salto do ônibus que já estava parado no engarrafamento. A cidade toda está parada e é impossível chegar ao centro para pegar as barcas. Temos um algum plano B?

Quero um helicóptero!
Quero um helicóptero!
Quero um helicóptero!


7:45h

Depois de 30 mim de caminhada, chego suado à Icaraí, onde pretendo pegar um novo ônibus em direção à estação de Charitas. Lá, catamarãs (lanchas bacanas que balançam e me deixam profundamente enjoado) caríssimos levam uns poucos abastados para o Centro do Rio. O Carlos está esperando também e agora não me sinto mais o único corno infeliz ilhado solitário.

8:00h

Pelo movimento de milhões de pessoas no ponto, percebemos que não vai rolar o buzão. Caralho! Começa a batalha por um táxi. Todos em Niterói tiveram a mesma idéia. Ao telefone, a mocinha me diz que os táxis demorariam de trinta a quarenta minutos. Xinguei ela sem a mínima culpa e há esse instante, já me sinto aliviado. E tem gente qu não gosta de palavrão, não é mesmo?

O Bruno me relata, por celular, que está a trinta minutos dentro de um ônibus sem que o maldito se mova nem um milímetro sequer.


8:30h

Conseguimos um táxi e estamos na fila quilométrica de pessoas que já estavam sabendo de tudo e tiveram a mesma merda de idéia de pegar o catamarã! Odeio a velocidade de informação do mundo contemporâneo.

Quero morar no interior!
Quero morar no interior!
Quero morar no interior!

9:10h

Chegamos à Praça XV, Centro do Rio. No Catamarã, topamos com vários amigos desesperados. Cada qual com sua história de malabarismos para chegar ao trabalho. O que é o capital, não é minha gente?

Caminhamos em grupo. Somos praticamente uma reedição de O Mágico de Oz em busca do caminha ideal para chegar ao arco-íris dos economicamente ativos!

Não, eu não estou drogado.

O Bruno, coitado, continua no mesmo ônibus, poucos metros à frente de onde estava há uma hora atrás.


9:30h

Pego o metrô lotado. Estou espremido entre uma gordinha falando alegre ao celular (óbvio que ela não veio de Niterói) e um senhor robusto com roupa de pagodeiro e perfume doce. A gigante bolsa esportiva da mulher de trás está pressionando uma de minhas costelas. Maldita! Tenho pulsões quase incontroláveis de assassinar alguém. Preciso de um Tylenol urgente (ainda que seja puro placebo, ele me deixa calmo e feliz)!


9:45h

Chego ao trabalho atrasado, suado, esfumaçado, fedido e com menos vinte e cinco lindos e cheirosos reais no bolso. Hoje eu mato um.


>Não tem desenho porque o diretor de arte chegou bufando às onze e está abarrotado de trabalho.

segunda-feira, maio 21, 2007

Abismo entre gerações



Outro dia acordei assustado com estranhos barulhos no corredor. Abro os olhos com sacrifício e contraindo com força as pupilas consigo acuidade visual suficiente para identificar as horas no celular. Sete horas da madrugada! Poderia chegar mais tarde na agência aquele dia por conta de meu dedicado trabalho insone nas noites anteriores. Claro que eu não fico nada satisfeito com o fato de ter sido acordado desta forma brutal e desumana. Saio do quarto disposto a matar ou morrer por mais longos trinta deliciosos minutos de sono.

Na porta, topo com minha mãe segurando uma vassoura. Ainda no afã de compreender melhor a situação, meus olhos percorrem o corredor e esbarram em um balde com milhares de apetrechos de limpeza dentro.

Façamos um check-list da situação. São sete da manhã (madrugada ainda). Quero desesperadamente continuar dormindo porque tenho a rara possibilidade de não acordar dez para seis da madrugada. Mamãe por alguma razão obscura está fazendo faxina a esse horário.

_ Mãe, a senhora poderia, em nome de Jeová, me explicar o porquê de estar fazendo faxina na porta do meu quarto a essa hora?

Ela deve ter um motivo. Não sei. Tony Blair vai fazer uma visita oficial aqui em casa, só pode. Ou Tony Bennett. Toni Tornado que seja! Dentro de milésimos de segundo vou receber alguma explicação razoável e vou ficar bastante satisfeito com meu auto-sacrifício.

_A menina vem aqui em casa hoje – respondeu-me sem desgrudar os olhos da vassoura que batia raivosa nas paredes.

Vi? Tudo tem uma explicação plausível? Temos visita e ainda que eu ache isso uma besteira, ela está dando uma ajeitada para receber essa tal menina importante. No caminho de volta para o quarto, de idiota que sou, resolvo perguntar de quem se trata:

_Mas que menina mãe? (Sasha? Dakota Fanning? Suri?)

_A faxineira filho.

_Ahn???? – entrei em desespero, confesso.

_Mas mãe, se a faxineira vem aqui, por que você estaria fazendo o trabalho que supostamente seria a razão pela qual ela vem???

Sim, sou prolixo quando estou com sono.

_ A faxineira vem ai e você não quer que ela ache que eu sou porca, quer? Elas reparam, você pensa que não? Pois reparam e saem falando da gente por ai....blá...blá...blá...

Nesse momento, volto para o meu quarto com a certeza de que o abismo entre gerações é algo extremamente sério. Possuído pelo ódio me encaminho para o banho e ainda escuto berros ao longe “ e vê se não molha banheiro todo porque eu já arrumei”.
>> Ilustração (caneta+photoshop) por Bruno Bottino
>> Quero muito ressaltar que eu NÃO TENHO ESSE PIJAMA DE HAMBURGERS! São apenas cousas da cabeça do moço ilustrador mesmo.

quarta-feira, maio 16, 2007

Devaneios do Ócio


Tenho um plano infalível. Algo que mudará de vez o rumo dessa minha existência atormentada pelo sol e pela criminalidade. E a gente tem que se ocupar enquanto passa 2 horas no engarrafamento, é ou não é?

Vou me mudar para Barcelona. Sempre gostei da Espanha. Lá é cheio de espanhóis, claro, e tem lojas da Zara, o que já constitui um bom motivo para viver em um lugar. No intuito de me manter vou jogar capoeira e dançar ritmos folclóricos brasileiros em alguma praça ou estação do metrô. Está tudo combinado. O Bruno vai comigo...Já começamos inclusive os ensaios técnicos durante o horário de almoço.

Se eu sei fazer essas coisas?
De onde você tirou essa idéia estapafúrdia? Óbvio que não.
Mas quem disse que eles lá sabem?

Requebro um pouco e digo que é jongo, mexo mais a cabeça e lá está um bela demonstração de maculelê, rodo e bato palmas e pronto, capoeira. E o samba? Quem olha pra mim tem logo essa gigante certeza de que eu fui nascido e criado em uma roda de samba. Ainda temos o funk, para representar a contemporaneidade rítmica brasileira, sendo esse o de mais fácil coreografia.

É de certo que a Europa toda vai vir aos meus pés.

Há quem diga que eu precisaria ser um pouco mais queimadinho e não ter bochechas rosadas, mas eu prefiro não me concentrar em pequenos detalhes. Sempre aparecem mentes limitadas por grandes ondas de pessimismo arraigado para dissuadir-nos de nossos propósitos, não é minha gente?

Eu sou clarinho assim, mas sou brasileiro poxa! Hei de ter algum crédito por conta de meu molejo, ainda que pífio, não é possível! Eu posso provar, está na minha carteira de identidade: bra-si-lei-ro! Tá lá...



>> ilustração (lápis + photoshop) por Bruno Bottino
>> O layout é provisório... Estou pensando em algo menos MTV. Convenhamos, já passei dessa idade.

Marcadores: , , ,

segunda-feira, maio 14, 2007

É segunda até segunda ordem


Segunda-feira preguiçosa. A cadeira em que me encontro está provocativamente mais confortável do que de costume. Uma moleza percorre meus músculos enferrujados pela falta de uso como uma corrente elétrica de efeito contrário.

Nos ouvidos gigantes fones me isolam do ambiente laboral com a suave e aveludada voz de Madeleine Peyroux que, instantes atrás, cantarolava versos de La Vie em Rose. Emails chegam ininterruptamente com os mais variados propósitos e pedidos. Como resposta para muitos escrevo apenas oquei.

As pessoas passam muitos emails, muitos, infinitos. Falam com você diretamente e apenas dez segundos depois lhe passam por escrito tudo o que foi dito, só que dessa vez com formalismos documentais e cópias aos superiores.

Continuo respondendo apenas “oquei” e acumulo coisas na já abarrotada pastinha de coisas deixadas por resolver. Talvez quando essa moleza patológica passar e Madeleine tiver se calado em meus grandes fones eu faça algo do qual eu realmente me orgulhe, algo grande e surpreendente. Talvez não. Afinal é segunda-feira e ninguém deve ter a audácia (ou a pretensão) de ser brilhante, criativo, proativo e afins.
>> Ilustração (Illustrator) por Bruno Bottino
>>> Olha que supimpa! O Bruno, diretor de arte aqui da "agença" e meu amigo de outros carnavais, vai fazer ilustrações como esta acima para os meus posts. Muito digno, não?
Visita o fotolog dele, anda! Clique Aqui!!!

Marcadores: , ,

quarta-feira, maio 09, 2007

Chuva de cafonices

A chuva finalmente deu as caras no Rio de Janeiro. E qualquer coisa que lembre frio aqui faz as pessoas perderem a noção nos casacos. Carioca não sabe usar casaco, definitivamente.

Agora há pouco vi uma senhora vestindo calça legging, sandália grendene de alguma modelo ou cantora e um sobretudo bege surrado, desses comprados para ir a Nova York nos passados anos de abastança. Toda molhada coitada.

Suéter de lã e havaianas é a opção dos descolados de plantão. É o que eu chamo de bicho do pé fashion. Eu hein, só no Rio é moda pisar em poça podre.

Audácia mesmo teve um outrozinho que me aparece aqui no elevador do prédio de calça social (com pregas) azul marinho, blusa social rosa bebê e moleton do Mickey cinza. Ta achando divertido? Meu bem, nada fica divertido com o complemento dos terríveis sapatos caramelo de bico quadrado.

Aliás, vamos esclarecer logo as coisas. Sapato caramelo de bico quadrado nunca, oquei? Jamais, em hipótese alguma, faça frio ou faça sol. Estamos entendidos?

quarta-feira, maio 02, 2007

Manual de Funcionamento Lipeburger

As palavras abaixo só podem ser entendidas quando inseridas dentro do contexto social caótico de um cidadão do Rio de Janeiro.

Corro de ladrão. Evito a polícia. Fujo da dengue. Me escondo do sol eterno. Rezo contra o desemprego. Vivo tentando escapar dos engarrafamentos. Odeio praia. Tampouco gosto de pessoas que amam praia mais que tudo e só falam disso. Acho horrendo gente queimada de sol. Tenho pavor dos carros com funk alto. Morro de medo de barcos de qualquer tipo. Detesto pitboys. Evito ao máximo sair de casa em dia de jogo do Flamengo.

Viu como eu sei ser simples?
Está tudo ai.