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domingo, novembro 26, 2006

Lipe, o engajado

Nem só de humor vive o blogueiro.

Ainda me assusto com os relatos de amigos, pessoas da minha faixa etária e com mesmo nível sócio-cultural, sobre sexo sem camisinha. Ainda me choca o fato de alguns, melhor dizer muitos, acharem que as coisas só acontecem com os outros.

Porém o que me indigna mesmo é a disseminação de um vírus muito mais letal do que o HIV, a ignorância. Ela é a base de todo preconceito e este, mata muito mais do que a aids ou qualquer doença. Mata pessoas de outra cor, religião, opção sexual. Ele destrói as chances de convivência harmônica entre as pessoas e dilacera o que poderia ser um rico intercâmbio entre as diferenças.

Esses dias, sentado em um café enquanto esperava por um cliente de freela, ouvi duas meninas conversando na mesa ao lado. Meninas bonitas, simpáticas, modernosas, alegres com seus cabelos balaiagiados e balangandãs da moda pendurados. O assunto evoluiu do filme Cazuza (que a Globo apresentara no dia anterior) para um rapaz na faculdade que era supostamente portador do HIV.

Não conseguiria reproduzir aqui, com riqueza de detalhes como é de costume, as baboseiras surreais que ouvi aquela tarde. Uma das meninas não senta nas cadeiras utilizadas pelo moço e a outra mantém distância para o caso dele tossir ou espirrar. As portadoras do SNCL (Sem Neurônios com Cabelo Loiro) não entendiam ainda sua aparência saudável e revoltadíssimas falaram sobre a pena que sentiam da garota que havia dado uns pegas no cara no primeiro período. “Ele já devia saber, mas fez de sacanagem” – concordaram.

Para não assassinar nenhuma delas com o perigoso Ice Tea Light de Pêssego que eu ingeria, me levantei e fui embora. Sim, porque para que serve uma latinha de Ice Tea se ela não pode virar uma arma letal cortante para sangrar a garganta de gente podre? Ein?

Nesse dia 1° de dezembro irão acontecer diversos eventos, palestras, matérias jornalísticas, peças de teatro, filmes, propagandas e milhares de coisas sobre Aids. Nenhuma delas vai surtir efeito algum se as pessoas não saírem do estado cômodo de inércia mental sobre o assunto. Nada vai acontecer se você continuar fingindo que não é contigo, que é um problema da África, ou dos gays, dos promíscuos (seja lá qual for a definição disso para você). É para isso que esse dia serve. É o dia de extirpar comportamentos como o das duas monstrinhas sociais.

Informe-se e não deixe que a sua realidade maravilhosa onde a Aids é um possibilidade remota destrua a chance de construção de uma realidade também maravilhosa para quem é portador do vírus.
:o)

terça-feira, novembro 21, 2006

O exorcismo

Papai cedeu às pressões sociais e chamou um moço que vai enfrentar a incrível tarefa de exterminar a imensa população de cupins vorazes aqui de casa. (relembre clicando aqui) O Sr. Exterminador Bigodudo chegou aqui com pompa e circunstância e após distribuir soquinhos pelos móveis e paredes soltando gemidos bem técnicos como “hummm” e “haaaaa”, deu-nos um diagnóstico preciso.

_Vocês têm uma colônia de cupins – falou ele em um tom superior como quem acaba de descobrir o mistério da vida.

Sei.

E fez-nos o favor de elaborar uma completa etnografia das malditas pragas e explicou-nos seus variadíssimos tipos e seus complexos processos migratórios praticamente desde a Pangéia, até como eles provavelmente passaram da casa do vizinho até meu humilde dormitório.

Elogiando o café de mamãe, o Chico Xavier da detetização abaixou a cabeça e iniciou o que me parecia ser um processo psicográfico. Passados cerca de dez minutos, entregou-nos uma folha de papel. O orçamento, no caso. Adiantei-me em pegar o tal papel que mais parecia uma daquelas provas de física do colégio que se entrega em branco. Papai prometeu analisar direitinho e retornar-lhe a ligação quando houvesse uma decisão. Na saída, ele ainda olhou-nos com uma expressão mística e sentenciou:

_Cuidado! Não demore muito a se decidir... Pode ser tarde demais!

Deveras assustados com as trombetas apocalípticas, entramos para o cupinzal, quer dizer, para casa. Papai, ainda que estremecido com as previsões catastróficas do Sr. Detetizador Nostradamus Bigodudo, estava inclinado a continuar os combates sem chamar por tropas de reforço. Pouco adiantaram minhas súplicas.

Estava na hora de apelar para o último recurso: meu irmão. Ele é o único ser vivente capaz de estabelecer uma conexão mental eficiente com meu pai e vencer a barreira intransponível de sua teimosia. Claro, ele é o mais velho, casou-se todo bonito e é engenheiro. Sabe, constrói prédios onde as pessoas podem morar felizes?! Entende?!

Já eu, faço desenhos coloridos no computador. Trabalho escutando música para revolta de meus progenitores. "Como alguém pode dizer que está trabalhando com essa música" – dizem sempre. Meus pais são de uma época em que prestígio social se definia através da profissão escolhida e apesar de meus esforços, eles ainda não compreenderam bem para que serve essa tal de Comunicação Social. Eu não os culpo não. Quem sabe se um dia eu tiver dinheiro para pagar minhas próprias balas juquinha, esse conceito mude.

Mas não fiquem tristes. É unanimidade que eu tenho as melhores piadas da família. Cada um que se agarre a seu título, não é mesmo?

Bem, o irmão - que é um moço bem sensato mesmo - conseguiu convencer papai de que o combate holístico aos cupins seria eficiente. Nesse momento, acabo de desmontar o que sobrara do meu quarto e estou prestes a desligar o computador. O exorcismo está marcado para as duas da tarde.

Vamos todos fazer uma corrente de energia positiva para que tudo corra bem, oquei?
Obs: Eu fui praticamente retirado À força do computador. Anotem os erros em um lindo email/comentário e mandem seus construtivos esbregues para mim, tá?! Agradecido.
:o)

quinta-feira, novembro 16, 2006

Do baú do esquecimento

Lencinho vermelho no pescoço
Não me venham com essa história da carochinha de que as coisas vão melhorar!Pra porra com o otimismo cego! Já percebeu que só pobre fudido é que é otimista?

A prestação das Casas Baia está acumulando, mas eles tão sorrindo, cantando pagode, bebendo cerveja quente, comprando tapete J. Serrano e Cozinha Bianca pré-montada com aquelas imitações de granito pavorosas.

Essa coisa de otimismo é balela das elites pra enganar o povo! Comigo não. Não mesmo. Não caio nessa pois não sou fudido iludido não! Sou só fudido, no caso.

O otimismo é o maior instrumento de dominação dos ricos sobre os pobres. Não é a mais-valia que eles apropriam tão somente, é a consciência e a capacidade de indignar-se. Sempre achei que "felicidade" é a pior coisa do mundo. Não falo felicidade enquanto sensação - o sentir-se feliz -, mas enquanto imposição social, obrigação e paranóia coletiva. Enquanto todo mundo está correndo atrás do seu conforto, da sua satisfação pessoal e sua felicidade em um universo micro, no macro todo mundo caminha para o fundo do poço.

Estou aqui totalmente sem reais, mas também não fico mostrando meus dentinhos para ninguém. Querem me explorar? Que agüentem meu mau humor então...
Eu sou assim, minha ideologia é sempre da mesma cor da minha conta bancária!
>> Sério, ofereço R$ 10.000 de recompensa pra quem encontrar perdido por ai esse menino que fui um dia.
Texto postado em 24 de janeiro de 2003, no blog antigo.
:o)

quarta-feira, novembro 08, 2006

Ausência

Sucede que não há nada o que contar. Mais uma entrevista de emprego ou duas. Mais uma gongação ou três. Muito menos alto-estima. Dinheiro não há nem para comprar um sacolé de manga da moça aqui da rua. Ando pensando em fazer artesanato com as cartinhas do banco. Só não decidi ainda se vai ser origame ou aquelas tirinhas que resultam caixinhas legais e até tapete...

Tem também o verão. Esse maldito enveredou-se por dentro da vida do moço que odeia calor assim de morte! Essa queimação desvairada que sai de dentro da gente e vem de todo canto monopolizando os pensamentos em torno de uma sombra, um sorvete, um ar condicionado ou qualquer troço refrescante.

É assim que passo meus dias de verão, torcendo para que ele acabe logo.
:o(