VIP Burger
E os vips estavam lá sim, todos rodando tontos na pista de dança. E sem recalque nem nada, não acho muita graça neles, a não ser pelos primeiros 10 minutos de contato visual. Claro, aquela coisa inicial de saber quem é quem debaixo das pinturas, tinturas, cortes de cabelo, bíceps hipertrofiados e colares da moda com bolas grandes.
Eu me sinto muito à vontade lá no meio deles, mas nada relacionado a pertencimento, de maneira nenhuma. É tão absolutamente fácil ficar ali, fazendo cara de "eu fui convidado, por isso devo ser importante também" (ainda que seja mentira, pois eu era um semi-penetra, digamos assim) ou simplesmente portando-se como plástico. Fácil, porém meio chato.
Há que se tentar muito não esbarrar em alguém, mas se acontecer, relaxe e solte um sorriso emblemático tal qual você tivesse topado com sua tia Eneida. Intimidade total é o lema. Se preciso for, fale um "oi" bem animado e descontraído, dê dois beijinhos e diga algo como "nem tinha te visto aqui!" ou "como você está, quanto tempo?". Essa gente conhece, em média, 78 pessoas por festa. Ficarão intimidados e terão certeza de que você é um conhecido de longa data. Afinal estão na mesma festa, mesmo ciclo social, enfim, vocês são a coqueluche do verão, o último mentex da caixinha.
Certa vez, eu usei essa tática em uma outra festinha. Salpiquei dois beijinhos tão naturais que a celebridade em questão jurou estar chateadíssima comigo. Eu ainda não tinha ido ver sua nova peça. Chatiaderrérrima!!! Logo você - resmungou ela. E eu sequer lembrava que a dita cuja era atriz. Minina, uma loucura, não consigo sair da ponte Rio-São Paulo (caso você não fale que acabou de chegar de São Paulo, você não será ninguém)...to praticamente morando no avião. - Risos - Muitos projetos (inclua sempre a palavra projetos nos diálogos, ok? eles adoram, é uma espécie de código) – respondi desculpando-me com minha mais nova amiga de infância, que dali a 10 segundos me deletaria de sua vida.
Mas voltando a festa de ontem, o som estava ótimo. Só música brasileira com direito a muito samba, axé e mpb dançante. E claro, depois de uma cerveja ou duas, foi meio difícil manter meus pés colados ao chão e minha estratégia plástica foi para o brejo. Sambei que nem mulata Sargentelli e do nada, me vi no meio da pista rodando com uma das baianas que estavam lá a servir guloseimas e coloridas fitinhas do Bonfin. Ao abrir os olhos e despertar de meu transe nagô, atrás das indumentárias brancas da baiana, pude avistar Adriana Esteves admirando minha performance com uma expressão bem peculiar e indefinida. Prefiro acreditar nessa versão do admirando para continuar respeitando a mim mesmo, sabe?
Fora isso, a noite transcorreu sem problemas. O Jean também estava lá. Ele sempre está. De inauguração de pracinha à aniversário de anão, o rapaz está em todas. As pessoas o querem porque ele não parece plástico como os demais. Dança, cumprimenta e conversa com as pessoas sem aquela cara de do not disturb. Talvez porque tenha ganhado notoriedade sendo ele mesmo. Dessa vez nem me deu fora, como na última onde ele interpretou mal algo que eu tinha dito, quando fomos apresentados. Normal, eu aturo isso de minha mãe quase todo dia e ela nem aparece na TV! Nem tem um milhão também...